terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Histórias de um livro raro

Estou trabalhando num livro de geografia antigo, impresso em 1867 com dados de 1854, dimensões 14 cm x 17,5. Esse exemplar pertence ao cliente e foi adquirido pelo avô do pai dele em  22 de março de 1890. Trata-se de uma edição em língua espanhola cujo original veio do inglês e indicada para crianças de escolas na América Latina, Índias Ocidentais e México, com alterações.
O livro veio sem a capa. Apenas os cartões internos sobraram da edição original.

Sem dúvida, é o livro mais cheio de marcas de uso que já tive em mãos. Veio repleto de DNA dos usuários. Como se sabe, grande parte da poeira doméstica é composta de células epiteliais da pele humana mortas. Encontrei fios de cabelos, todo tipo de partículas e até um confete de carnaval.
Detalhe da folha de rosto. A data da impressão no pé da página direita.

Sobre a limpeza - Quem não possui uma mesa especial para limpeza, faz como eu e usa um pano úmido para reter a poeira e o particulado grosso, além de usar o EPI básico. Na foto se vê a quantidade de resíduos e os meus equipamentos para escovar, raspar e analisar as páginas. Foram 55 minutos dedicados à limpeza prévia do exemplar, que tem como característica marcante a costura por cima do festo. Foto.
Particulado grosso retirado do miolo do exemplar com 152 anos de uso.

Além disso, as marcas dos usuários e os nomes grafados na bordas indicam um passado de intenso manuseio. As páginas iniciais, me parece, foram adicionadas depois em uma intervenção de reparo. Essas folhas adicionais foram usadas para exercícios de caligrafia e uso do compasso.
Detalhe da folhas adicionais coladas ao exemplar, com marcas de compasso e exercício de caligrafia.

As marcas dos dedos contam uma história de muitos usuários, provavelmente da zona rural, a julgar pelos resíduos de terra nas margens. No total são 148 páginas de um papel bem frágil e que vai merecer uma centena de pequenos reparos nos rasgos e festos danificados.
Após a limpeza do cadernos em sequência, se vê a furação da costura por cima do festo.

É um livro único que vale a pena restaurar pelo valor histórico e afetivo. As marcas dos leitores  também se destacam na análise. Alguém controlou a leitura do conteúdo com numerações e outros sinais gráficos. Outro leitor se dedicou a colorir algumas das dezenas de ilustrações do livro que tem 152 anos de uso. Um achado.
Na foto se vê ainda os restos da lombada original, antes da limpeza. E outros exercícios de caligrafia.

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